Mutação relacionada ao autismo altera o equilíbrio das bactérias do intestino em camundongos
Camundongos com uma mutação em um dos principais genes do autismo, chamado SHANK3,têm níveis de certas bactérias intestinais alterados, mostrou um novo estudo.Por outro lado, quando alimentados com Lactobacillus reuteri, um microrganismo encontrado no iogurte e em probióticos, alguns dos problemas destes camundongos apresentam melhora.
Evidências preliminares indicam que pessoas com autismo também têm um microbioma intestinal (o conjunto de bactérias no seu intestino) alterado. Um pequeno estudo publicado em 2017 sugeriu que o uso de transplantes de bactérias em crianças com autismo pode aliviar seus problemas digestivos e até mesmo seus problemas sociais. As novas descobertas oferecem novas evidências para apoiar essa ideia. Elas também revelam uma conexão entre os genes ligados ao autismo e a flora intestinal.
“Eu acho que é importante dar um passo atrás e investigar como a genética do autismo poderia mudar o microbioma”, diz o pesquisador Evan Elliott, professor assistente de neurociência molecular e comportamental da Universidade Bar-Ilan, em Israel. O trabalho também sugere uma explicação de como as bactérias afetam o comportamento: através de um mensageiro químico chamado ácido gama-aminobutírico (GABA).
O estudo é notável porque liga contribuintes genéticos e ambientais ao autismo, diz Sarkis Mazmanian, professor de microbiologia no Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, que não esteve envolvido no estudo.
Refeição microbiana:
Mutações noSHANK3 são responsáveis por cerca de 2% dos casos de autismo. Elliott e seus colegas analisaram amostras de fezes de 31 camundongos com mutação emSHANK3 e de 27 controles (camundongos sem a mutação). Descobriram que os camundongos mutantes têm menos diversidade em seu microbioma do que os controles. Alguns camundongos carecem de certas espécies bacterianas e têm níveis diminuídos de outras, incluindo a L. reuteri. Os níveis de duas espécies bacterianas, do gênero Veillonella, também são incomumente baixos nas fêmeas mutantes, e uma delas é muito abundante em machos mutantes.
Um estudo de 2016 descobriu que a espécie L. reuteri restaura comportamentos sociais em camundongos nascidos com um microbioma desequilibrado. No novo estudo, L. reuteri também aumenta o interesse de camundongos machos, mas não de fêmeas, por outros camundongos. Alimentar os camundongos mutantes com a bactéria também diminui o número de pedras de mármore que eles enterram – um teste que mede seu comportamento repetitivo.
Ainda assim, a relevância dessas descobertas para as pessoas com autismo não é clara, diz Jill Silverman, professora associada de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade da Califórnia, no Instituto Davis MIND, que não esteve envolvida no estudo. Os mutantes geralmente são lentos, o que pode distorcer os resultados dos testes, diz ela.
O trabalho foi publicado no dia 19 de maio na página da revista Brain Behavior and Immunity.
Conexão química:
Os pesquisadores também investigaram como as bactérias podem afetar o comportamento. Um estudo de 2011 relatou que alimentar camundongos com outra espécie de Lactobacillus altera a expressão no cérebro de receptores de GABA. As bactérias secretam moléculas de gordura com uma estrutura química semelhante à do GABA, e isso pode alterar a expressão de seus receptores, diz Elliott.
A equipe de Elliott explorou ainda mais a conexão com o GABA, medindo os níveis de L. reuteri e a expressão dos receptores de GABA no cérebro dos mutantes. Eles descobriram que os níveis das bactérias intestinais acompanham os de três tipos de receptores GABA no cérebro. Alimentar os camundongos com L. reuteri aumenta a expressão de todos os três tipos de receptores.
O gene SHANK3 é expresso em neurônios no intestino e pode alterar o microbioma através desses neurônios, diz Elliott. Alternativamente, ele pode alterar os níveis de certos hormônios que afetam o intestino. Elliott e seus colegas estão avaliando a diversidade microbiana no intestino de pessoas com autismo que carregam certas mutações.
Referências:https://www.spectrumnews.org/news/autism-mutation-alters-balance-gut-bacteria-mice/Tabouy L. et al. Brain Behav. Immun. Epub ahead of print (2018)Bravo J.A. et al. Proc. Natl. Acad. Sci. USA108, 16050-16055 (2011)